sábado, 23 de janeiro de 2010

Quer casar comigo? Eu quero me casar com sua poesia.



Ferreira Gullar

A VIDA BATE


Não se trata do poema e, sim, do homem e sua vida - a mentida, a ferida, a consentida vida já ganha e já perdida e ganha outra vez. Não se trata do poema e, sim, da fome de vida, o sôfrego pulsar entre constelações e embrulhos, entre engulhos.



Alguns viajam, vão a Nova York, a Santiago do Chile. Outros ficam mesmo na Rua da Alfândega, detrás de balcões e de guichês.
Todos te buscam, facho de vida, escuro e claro, que é mais que a água na grama, que o banho no mar, que o beijo na boca, mais que a paixão na cama.
Todos te buscam e só alguns te acham.
Alguns te acham e te perdem.
Outros te acham e não te reconhecem e há os que se perdem por te achar, ó desatino, ó verdade, ó fome de vida!
O amor é difícil, mas pode luzir em qualquer ponto da cidade.
E estamos na cidade sob as nuvens e entre as águas azuis.
A cidade.
Vista do alto ela é fabril e imaginária, se entrega inteira como se estivesse pronta.
Vista do alto, com seus bairros e ruas e avenidas, a cidade é o refúgio do homem, pertence a todos e a ninguém.
Mas vista de perto, revela o seu túrbido presente, sua carnadura de pânico: as pessoas que vão e vêm que entram e saem, que passam sem rir, sem falar, entre apitos e gases.
Ah, o escuro sangue urbano movido a juros.
São pessoas que passam sem falar e estão cheias de vozes e ruínas .
És Antônio?
És Francisco?
És Mariana?
Onde escondeste o verde clarão dos dias?
Onde escondeste a vida que em teu olhar se apaga mal se acende?
E passamos carregados de flores sufocadas.
Mas, dentro, no coração, eu sei, a vida bate.
Subterraneamente, a vida bate.
Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi, sob as penas da lei, em teu pulso, a vida bate.
E é essa clandestina esperança misturada ao sal do mar que me sustenta esta tarde debruçado à janela de meu quarto em Ipanema na América Latina.

"Quem costuma viajar sabe que sempre é necessário partir novamente um dia." Paulo Coelho

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