quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O arroz com feijão dos Alpes Franceses.









Aquela vida de cidade do interior, do interior do Brasil, das Minas Gerais de outrora, você não encontra mais. Aquela comidinha de fogão à lenha, fazer quitandas, fornadas de bolos e biscoitos. Acabou-se o que era doce. Doce e salgado. Com a correria do dia a dia, mesmo nas cidades mais calmas, a dona de casa quer mais é ir até a padaria da esquina e comprar tudo prontinho, pãozinho de sal, leite pasteurizado e iogurte com frutas.

Estão errados? Tão nada! Só pensa que eles tão errados, quem vai visitar e fica louco achando que vai encontrar a mesa de café da manhã ou de jantar, com tudo que comia na infância e ainda guarda na memória cheiros e sabores.

Mas, aqui nos Alpes Franceses, nas montanhas brancas de neve, na roça organizada e com muita qualidade de vida, a coisa é diferente; ainda guardam muitos dos costumes de outrora. Mesmo com todos os supermercados, oferecendo milhões de alimentos, com uma infinidade de variedades, cores e sabores, eles não se deixam seduzir totalmente.

Durante o verão, todos saem pra passear ao ar livre, respirar, armazenar vitamina D aproveitando o solão, e colher frutas pra fazer compotas e geléias que serão consumidas nos longos meses de inverno.

E vão também plantar e colher legumes, que comerão com o maior orgulho, apreciando e comparando a safra desse ano com a do ano passado.

É muito legal ouvir: "As framboesas esse ano não ficaram bonitas, secaram, porque o sol foi muito forte". Ou : "as myrtilles (mirtilo em Português) deram como nunca. Não conseguia dar fim naquele mundo e fiz vidros e mais vidros de compota, congelei potes e potes".

E dá-lhe a congelar caldos, legumes, sopas, tudo com produtos de cada horta caseira, de cada troca entre vizinhos e, a cada dia, sai uma coisa mais gostosa do que a outra, de uma despensa sem calefação, que mantém tudo como se fosse numa câmera fria, não deixando perder nada e todos se alimentando muito bem durante o ano todo.

E, foi com um desses potes congelados, que foi feita essa tarte/maison ( torta feita em casa) que é uma delícia de lamber os beiços. A massa é crocante e quase não leva açúcar. Não agradaria à maior parte do paladar brasileiro, que é chegadinho num doce bem duçim. Eu também sou mas, metade dessa aí, foi devorada por mim. Uma parte na sobremesa, outra no café, pontualmente servido às 4 da tarde.
Esse almoço simplesinho de meio de semana, tinha, como entrada, uma salada verde : vários tipos de alface, devidamente pincelados com um molho de mostarda de arrepiar no azedume e na gostosura.
O prato quente era esse empanado de peito de peru. A massa quebrava de tão macia. Perseguia o empanado, vagens verdinhas da horta da casa.
Depois, queijos com pão, de sobremesa e depois a torta de myrtilles. Depois fruta ou iogurte. Eu não dispenso o iogurte. Natural e sem açúcar.
Pra quem gostasse, tinha vinho e, pra mim que não bebo, suco de maçã.
Ainda chocolate suisso, comprado no país vizinho, há 1 hora daqui.

E foi tudo.
Querem saber o que comemos hoje?

Uma peixada feita por mim, com leite de coco e tudo. Como manda o figurino. E o peixe era posta de bacalhau fresco. Uma delícia!
E fez tanto sucesso quanto a torta local.

Cada qual dentro do seu quadrado e ensinando e aprendendo com o outro.
Bom dimais da conta, sô!

Ps.: brincar na neve antes do almoço, foi só pra abrir o apetite.
Como se precisasse!!!



"O mundo é um lugar que ninguém conheceu ainda pela descrição. É necessário percorrê-lo, a gente mesmo, para saber do que se trata." Philip Dormer Stanhope













quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Quando tem que ser é mesmo. Não adianta fugir, amigo.


Eu trabalhei no Iraque por muitos anos e conheci muitas pessoas. Muitas mesmo! E um dos meus melhores amigos trabalhou lá também, no mesmo período que eu e, durante dois meses, quase do lado da minha sala, e nunca o vi, nos reunimos ou nos encontramos. Gente demais trabalhando em um país estranho.Tudo era muito novo.

Voltando pro Brasil, resolvi dar um rolé pela Europa. Minha primeira passada por lá. Conhecer a velha senhora, eu e uma amiga.
Uma colega de trabalho, sabendo que passaríamos por Paris, deu-me uma carta (O que é isto? Pesquise no Google) pra entregar pra ele. Eles tinham trabalhado juntos. Além de dar notícias dela, teríamos a oportunidade de conhecer um cara legal, segundo ela.

OK. Eu recebi a carta e partimos pra nossas merecidas férias. Isso era lá pelo final de agosto.

Caminhamos e caminhamos e, esta viagem, também resultou em muitos causus que contarei noutra hora..

Chegamos a Paris. Como ficaríamos poucos dias, liguei logo pro moço. Como prometido, cheio de simpatia, ele nos convidou para jantar e dar um passeio no intervalo entre um trabalho e outro.

Estava em Paris desde que saíra do Iraque, juntando uma graninha antes de retornar ao Brasil e, talvez, o fizesse no final daquele ano ou início do próximo.
E fomos e passeamos e ele nos mostrou muitas coisas lindas que, somente aqueles que moram na terra, tem o prazer de conhecer, e me mostrou uma pracinha que era sua favorita, com um único banco de madeira, uma árvore no centro e, naquela noite, foi encomendada uma puta lua cheia que fazia gritar a alma. Esse lugar tornou-se um dos meus lugares preferidos pra mostrar aos amigos, sempre que nos encontrávamos em Paris .

Foi um encontro muito bom!

Ele me contou sobre a família em Belo Horizonte, onde moravam e não era muito longe da minha casa, na verdade, era pertinho.

Quando nos separamos, ele me deu o telefone de uma tia (usava isso na época) e me pediu pra ligar, dizendo que a gente tinha se encontrado, que tava tudo bem, essas coisas que tia adora saber... que ele tava limpinho, não tava com fome e com muita saúde.

E passamos por Portugal e Espanha antes de chegar em casa.

Bão, cheguei e fui me readaptando com a Pátria Amada Idolatrada, Salve! Salve! lentamente. Liguei pra tia do meu novo amigo, dei a notícia, ela ficou toda feliz.

Voltei a trabalhar, reencontrar com os amigos e, finalmente, retomar minha rotina.

Um dia, do nada - devia tá procurando um telefone na agenda - eu vi o nome da tia e, só Deus sabe porquê, decidi ligar pra ver se eles tinham notícias, se sabiam quando ele voltaria, quer dizer, qualquer novidade.
Um primo dele atendeu o telefone e eu perguntei. Ele me disse: "um minuto que tão tocando a campainha e pode ser que seja ele".
Dois segundo depois, meu amigo pega o telefone e já vai perguntando: "Uai! como você sabia que eu tava chegando?" Eu disse: "chegando como?" E ele: "acabo de chegar do aeroporto nesse minuto".

E nunca mais nos separamos.
"Um amigo alegre numa viagem é quase tão útil quanto um veículo." Públio Siro

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Vendendo o peixe pelo mesmo preço que paguei
















A gente pensa que só nossos governantes são campeões em fazer merda. Ficamos um pouco aliviados quando descobrimos a merda dos outros, em outras terras.

Vou passar o peixe pelo mesmo preço que tô comprando.

O francês, de modo geral, não é a favor de vacina. Seja ela qual for. Até as vacinas que, no Brasil, são obrigatórias, pra crianças, aqui não são, assim, nem todos vacinam os filhos.

Com a história da Gripe A, o bicho tá pegando por aqui.

Segundo os amigos nativos, fez-se um alarde tamanho como se não fosse ficar pedra sobre pedra, quer dizer, não ia ter espaço pra enterrar tanta gente, tamanha a força com que chegaria a gripe aqui, acompanhada do inverno.

E taca o governo a comprar vacina. A Ministra da Saúde autorizou a compra de uma quantia absurda, segundo o povo. Três terços da vacina, que daria pro mundo todo, foi comprada aqui. Segundo o governo, seriam aplicadas em duas doses, só que, a segunda dose, quando fosse ser aplicada, a validade já teria ido pro brejo.

Foram encomendadas 94 milhões de doses. População da França = 65 milhões. Preço em torno de 700 milhões de euros. Estão tentando aplacar a fúria da população, negociando com os laboratórios (segundo o que ouvi, a ministra já trabalhou em um deles) a devolução da metade.

Foram gastos 350 milhões de euros em máscaras. Milhares delas, não sabem onde enfiar.

Mobilizaram postos de saúde, que ficaram às moscas ( foto acima) porque o francês tem confiança no médico que ele conhece, que o acompanha. Não se deixa vacinar por um médico de posto de saúde. Vários médicos colocaram aviso na porta do consultório dizendo: "Não dou vacina conta Gripe A".

E pra piorar ainda mais a situação, nessa época do ano, existe um surto de diarréia. Comum como uma gripe de inverno. E ele veio brabo, pior do que a gripe tão esperada.

Daí, que tirei a charge da Ministra da Saude, dizendo que já encomendou 94 milhões ( mesmo número da vacina ) de papel higiênico. A tradução literal fica meio danada de fazer. Deduzam vocês.

Tudo que estou repassando, li nos jornais locais Liberátion, Figaro, le Monde. No Le Monde de 04 de janeiro, tem uma reportagem com todos os valores gastos pra essa GripeA.

Em torno de 2 bilhões de euros.

E continua a confusão. Segundo o povo, isso é uma pouca-vergonha. Briga de interesses de laboratórios. Li vários comentários de muitos leitores, mostrando o que é usado como verba pra várias doenças, como o câncer por exemplo e nem chega aos pés do que foi gasto com a gripe.
Li, também, que estão tentando negociar o repasse do encalhe pros países pobres. Se a merda já tá feita, eu acho que, o mínimo que poderiam fazer pra melhorar a situação, seria doar.

Enfim, eles que são brancos....mas aqui como aí, o bicho pega sempre onde?

No bolso do povo, é claro!

" Ao redor dos quatro pontos cardiais desdobram-se como bandeiras as ruas, oxalá meus versos erguidos tremulem essas bandeiras." Jorge Luis Borges.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Hoje Favela Chic, ontem, não tão chic assim...









































Conversando com um grande amigo francês, falávamos sobre as favelas brasileiras e ele começou a me contar das favelas parisienses.
Com o término da Segunda Guerra Mundial, as pessoas do campo começaram a vir pra cidade. E, junto com elas, um mundo de imigrantes portugueses (que hoje é a maior imigração na França), espanhóis, árabes... Uma verdadeira invasão.

Como os nossos imigrantes de vários cantos do Brasil, vieram e foram ficando e se acomodando em torno da cidade já que, conseguir trabalho e moradia, não era tão simples como eles imaginavam.

A maioria dos homens, como eram camponeses fortes, faziam o trabalho mais pesado como carregar e descarregar sacos em lojas, padarias e feiras. Muitos se tornaram motoristas de táxi.

Em Paris, onde se encontra hoje La Défense - o centro financeiro, comercial e dos homens de negócio, o Wall Street francês - já foi uma favela. E não tem muito tempo.

Como se pode ver nas fotos que encontrei, ainda nos anos setenta, elas estavam lá.

Foram construindo prédios e mais prédios e eles foram empurrando as pessoas das favelas - que aqui se chama "bidonville" - pra mais longe, pra trás do Grande Arco.

Esse Arco é uma homenagem ao Arco do Triunfo - em versão moderna - e, olhando de frente pra avenida, ao longe, veremos o Arco antigo e, espichando a vista mais e mais, até chegar no Louvre e, mais ainda - agora já de binóculo - até chegar na Praça da Bastille. Tudo uma reta enorme, que muda de nome umas 3 ou 4 vezes.

O centro financeiro começou a ser construído no final da década de 50. E, como o povo começou a ser empurrado, o partido comunista - que tinha uma grande força na época - colocou a boca no trombone; fizeram tanto barulho, que os construtores da época, muito espertinhos e doidinhos pra embolsar mais e mais francos, ouviram e tiveram a brilhante idéia de construir prédios, como os nossos conjuntos habitacionais, e o povo teve onde ir morar com mais conforto e dignidade.

Em 1966, um levantamento social dá os seguinte resultados: "Paris e seus subúrbios - com 119 favelas - inclui cerca de 4.100 famílias compostas de 47.000 pessoas (42% de norte-africanos, 21% portugueses, 6% espanhóis e 20% franceses). Só na favela de Nanterre ( hoje La Défense) 80% da população era francesa."
Só a partir de 1970, o governo realmente começou a tomar providências e elas desapareceram.
Com o tempo, as coisas foram mudando e, hoje, já não é a mesma maravilha de outrora. A turma de primeiros moradores já passou dessa pra uma melhor e, quem foi se apossando, foi transformando esses prédio em verdadeiras favelas verticais. Em sua grande maioria, são habitados por imigrantes, principalmente árabes.


O que esse Blog tem a ver com isso?
Além de ser um assunto que acho curioso, de repente você vem passear por estas bandas e vai passar por lugares, hoje super elegantes, e saberá que, há algum tempo, poderia estar passeando em qualquer Rocinha ou Complexo do Alemão aí no Brasil.

Isso quer dizer que, lugar algum nasceu lindo e rico. Foi às custas de muito trabalho e muita luta. Como no post que falei sobre inundação em Paris. Meu lado cheio de esperança que, felizmente imagino deve morrer junto comigo, sempre pensa que ainda podemos esperar uma vida bem melhor pro nosso povo.

" Conhecer lugares onde se escreveu a história é uma enorme fonte de prazer."

COLARES - CADA UM MAIS LINDO PRA MAMÃE OU PRA VOCÊ - DIA DAS MÃES 2024

PREÇOS DOS COLARES 31 - 30,00 14 - 40,00 27 - 35,00 33 - 30,00 89 - 75,00 116 - 65,00 75 - 75,00 79 - 65,00 111 - 65,00 110 - 80,00 81 - 75,...